terça-feira, dezembro 27, 2011

Um degrau...sete filhos!

Vamos chamar Miguel ao senhor do qual nem mesmo eu sei o nome. Contaram-me esta história que me ficou a bailar na cabeça mesmo passado algum tempo depois de a ouvir. Partilho-a convosco, porque me parece pertinente e porque se torna fatalmente comum.



O senhor Miguel viveu naqueles tempos agrestes do centavo e da galocha no pé todo o ano, de uma sardinha que tinha de dar para três, da roupa que se desfazia no corpo. Uma vida inteira a trabalhar, pois a família era numerosa e havia que garantir o escasso que se pudesse ter. Teve sete filhos, que foram crescendo e furando outros caminhos, potencial e esperançosamente melhores que o dos pais.



O senhor Miguel envelheceu e teve um novo lar...o dos idosos! Os filhos têm as suas vidas e não têm tempo nem espaço para o pai. A sua vetustez conferiu-lhe, porque os anos pesam, o estatuto de paciente assíduo e permanente nos hospitais. Numa das vezes, quando lhe deram alta de um dos internamentos, os serviços hospitalares telefonam para o lar de idosos, informando que o senhor Miguel se encontrava estável e que podia regressar para o lar. Atrapalhados com o pessoal que estava em défice, uma funcionária e o próprio presidente da instituição, com quem o senhor Miguel tinha uma relação estreita e amistosa, se deslocaram ao hospital para o ir buscar. Um de cada lado, ajudaram o senhor Miguel a mover-se e este, amparado por duas pessoas que lhe eram queridas, mas que não eram os braços que ele mais queria, a cada degrau que subia apenas dizia paralelamente: "Tive sete filhos!", e mais um, "Tive sete filhos!", e outro, "Tive sete filhos!"



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