domingo, julho 27, 2008

Impressões...

Ficam-nos imagens, toques e gestos insistentes, permanentes, em ideia fixa e flutuante. Preenchem buracos, ocupam espaços, misturam-se ideias e ideais numa interrogação inútil e descabida, porque amanhã já deixou de ser.
Sair de nós implica um caminho íngreme, sempre a descer. É fácil, não custa e não cansa. Quando regressamos, perdemo-nos confusos e desconhecidos. Porque descemos cegos, não reconhecemos o trilho de regresso. Palmilhamos como se não fossemos de nós mesmos, como se algo absurdo nos tivesse aniquilado os sentidos. E então cansamos e acordamos...
Sair de nós, embriagados pelo que não somos, altera-nos a imagem, despista-nos da subida a empreender.
Descer é salutar, desde que não passemos pelo des-Ser. A partir do momento em que saímos de nós, quer por atitudes quer por pensamentos, deixamos de ter a lucidez, não a consciência, mas a lucidez que nos julgará mais tarde.

quarta-feira, julho 23, 2008

G8 e a fome no mundo...

Diário de Noticias

"Trufas e caviar no jantar da cimeira do G8 sobre FOME
Os líderes das oito economias mais industrializadas do mundo (G8), reunidos numa cimeira no Japão, estão a causar espanto e repúdio na opinião pública internacional, após ter sido divulgada aos órgãos de comunicação social a ementa dos seus almoços de trabalho e jantares de gala.
Reunidos sob o signo dos altos preços dos bens alimentares nos países desenvolvidos - e consequente apelo à poupança -, bem como da escassez de comida nos países mais pobres, os chefes de Estado e de Governo não se inibiram de experimentar 24 pratos, incluindo entradas e sobremesas, num jantar que terá custado, por cabeça, a módica quantia de 300 euros.
Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas eram apenas alguns dos pratos à disposição dos líderes mundiais, que acompanharam a refeição da noite com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005, que está avaliado em casas da especialidade online a cerca de 70 euros cada garrafa.
Não faltou também caviar legítimo com champanhe, salmão fumado, bifes de vaca de Quioto e espargos brancos. Nas refeições estiveram envolvidos 25 chefs japoneses e estrangeiros, entre os quais alguns galardoados com as afamadas três estrelas do Guia Michelin.
Segundo a imprensa britânica, o "decoro" dos líderes do G8 - ou, no mínimo, dos anfitriões japoneses - impediu-os de convidar para o jantar alguns dos participantes nas reuniões sobre as questões alimentares, como sejam os representantes da Etiópia, Tanzânia ou Senegal.
Os jornais e as televisões inglesas estiveram na linha da frente da divulgação do serviço de mesa e das reacções concomitantes. Dominic Nutt, da organização Britain Save the Children, citado por várias folhas online, referiu que "é bastante hipócrita que os líderes do G8 não tenham resistido a um festim destes numa altura em que existe uma crise alimentar e milhões de pessoas não conseguem sequer uma refeição decente por dia". Para Andrew Mitchell, do governo-sombra conservador, "é irracional que cada um destes líderes tenha dado a garantia de que vão ajudar os mais pobres e depois façam isto".
A cimeira do G8, realizada no Japão, custou um total de 358 milhões de euros, o suficiente para comprar 100 milhões de mosquiteiros que ajudam a impedir a propagação da malária em África ou quatro milhões de doentes com sida. Só o centro de imprensa, construído propositadamente para o evento, custou 30 milhões de euros."

terça-feira, julho 22, 2008

Transparências

Há coisas de que podemos falar muitas vezes tendo a certeza de que nunca deixarão de ser nossas. Há outras que guardamos mais para que não fujam de nós, para que não se tornem estranhas e para que, sobretudo, os outros não as deturpem. E há ainda outras que não se referem para não nos despirem sentimentalmente...No entanto, há outras linguagens que, por mais que nos esforcemos, denunciam o silêncio da verbal e, desta forma, não ficamos nus, mas transparentes!

quarta-feira, julho 09, 2008

Almofada especial!

Há uns tempos atrás, o meu pároco, numa homilia, conta a seguinte história.
Havia aqui no concelho uma idosa acamada e a filha estava a tomar conta dela. Num daqueles últimos desejos, a senhora só pedia à filha que, quando morresse, queria levar a almofada que a confortava com ela. A filha sem entender muito bem, dizia sempre que sim ao pedido da mãe. Porém, o rogo insistente da mãe e o impedimento de nem sequer deixar mudar a fronha deixavam a filha cada vez mais intrigada. Um dia, a senhora faleceu. Finalmente, a filha podia pegar na almofada e satisfazer a sua curiosidade. À primeira vista, era uma almofada mais do que normal, além da sujidade que a corrompia. Decidiu abri-la e eis que lhe surge todo o espanto do mundo... Sabeis o que tinha a almofada??? Estava recheada de dinheiro! Verdade....! Numa lógica quase furiosa, a filha não lhe colocou a almofada no esquife, afinal, tinha estado a tratar dela sem lhe cobrar nada e ainda queria levar o dinheiro com ela.
Para que o quereria a defunta? Para subornar a entrada no céu? Ou para precaver a sua sustentabilidade num local onde nada se compra, todo o necessário se conquista em tempo útil de vida?
Por dinheiro, por pedacinhos de terra, por questões mínimas e insignificantes, as pessoas julgam que é o mundo que lhes foge, quando somos nós que fugimos ao mundo e não só: com atitudes destas, fugimos também à verdadeira Vida!