sexta-feira, novembro 02, 2012

 
 
Diz algures um livro que "as leis são o que nos separa da bestialidade"! De repente, considerei a frase pertinente e ajustada. Mas depois fiquei a pensar naquelas leis que por natureza oculta e de construção sintática confusa nos remetem elas próprias para a bestialidade legislada!

segunda-feira, outubro 29, 2012


 
Ter um trabalho intelectual e psicologicamente exigente e desgastante ajuda-nos a valorizar e a realizar com mais energia e entusiasmo todas as outras tarefas que por vezes se podem apresentar como rotineiras, maçadoras e intermináveis!

segunda-feira, julho 09, 2012

Sonha um bocadinho

Chegou à aldeia pelo nascer do sol, de cabeça elevada como se fosse o próprio astro no alto do seu esplendor, trazia uma mala reduzida, mas que parecia pesar, pendendo-o ligeiramente para o lado direito. A tia Quinhas, sempre à soleira da porta à espera de nova aragem, perscrutou o forasteiro de alto a baixo com uma ponta de desconfiança, mas a Lara, menina curiosa que brincava com as suas amigas, logo reparou naquele andar despreocupado e radiante do homem que se aproximava. De imediato, todas as crianças o rodearam e, por mais inexplicável que vos possa parecer, não mais o largaram.
Amadeu Onhos era o último filho de mais uns quantos, cujo paradeiro desconhecia, mas que a vida juntava sempre que lhe apetecia, por isso nenhum deles se fixava em lugar algum.
À parte as suspeitas iniciais, a população começou a falar com o Sr.Onhos, que permaneceu na aldeia dia e noite debaixo de uma simples oliveira sem precisar de adereços que o protegessem das intempéries. De cada vez que lhe falavam, os aldeãos sentiam-se revigorados e com ganas de avançar por esse monte estreito e inclinado que é a vida. Porém, no outono seguinte, instala-se também na aldeia a Sra. Irces, que diz ser a proprietária daquela pequena população. Todos, ou quase todos, lhe condicionaram as suas próprias vidas, escusando-se na sua imperial e teimosa estada na aldeia. As crianças e uma meia dúzia de tolos passaram a ser a única companhia do Sr.Onhos. Este soube exatamente que era chegado o tempo da sua partida, mas deixou-se ficar na coragem dos que ao pé dele ficaram e, sobretudo, nos olhos da Lara que correu para lhe entregar a mala de que ele se esquecera.
- A mala tem outras tantas malas mais pequenas quantas as pessoas desta aldeia, Lara! Quando elas voltarem, devolve-lhes a que a elas pertence por direito e talvez por obrigação. Serás guardiã delas e de vez em quando hei-de voltar para encher as que foram recobradas!

A Lara cresceu sempre menina e tornou-se especialista na arte da sornha, artesanato que parece ter ficado esquecido no fundo das pequenas malas de alguns aldeãos. Por vezes, sente-se a esmorecer, mas concentra-se a ver o sol nascer, porque nele ainda revê os passos do Sr. Onhos.



domingo, julho 08, 2012

Fácil gostar de ti


Não é porque é fácil gostar de ti que eu,na verdade, gosto de ti. É por ser difícil encontrar tesouros como aquele que tu és. O que é comum vai passando por nós quase de forma impensada, o que é uma raridade faz-nos pensar na sorte que temos.


Parabéns, Mónica :)

sábado, julho 07, 2012

Deus e Mia Couto


O Luís trouxe-me uma revista que contém uma entrevista a Mia Couto. Do pouco que o Luís me conhece, sabe já, no entanto, que este senhor de olhos azul-infinito me provoca o espírito e inflama a profundidade onde ainda não cheguei. Sabe também que sou mulher de religiosidade esclarecida e convicta. E pergunta-me:

"- Sabias que Mia Couto não acredita em Deus?"

À pergunta "Acredita em Deus?", Mia Couto responde:
" Sou um ateu não praticante. Sou alguém que nem sequer precisa de pensar que tem de acreditar em alguma coisa. Os deuses estão dentro de mim e revelam-se quando estou no estado de comunhão e a beleza faz-me ver o lado divino. Sou religioso nesse sentido etimológico da palavra, de estar religado ao mundo e de encontrar, dentro de mim, essas pontes que me ligam ao resto do  mundo."

Na minha vez, sorrindo,respondi ao Luís:
"- Sim, sabia! O que me fascina numa pessoa não é a religiosidade que tem ou deixa de ter, o que me cativa é o modo como olha o mundo, o sentido de justiça que lhe atribui e o que faz para o transformar."

O que me prende a Mia Couto é esse Deus em silêncio que ele tem dentro de si e que tão criativamente o liberta no que escreve, unindo-se ao emaranhado de gente que vive as suas histórias na realidade.


Deus pregou-me uma partida

Acabei de o ler...um caminho gradual até ao saber lidar com o sofrimento. Claro, podeis vós dizer, mas é tudo no livro, na teoria. Eu penso que pode ser muito mais do que uma teoria, também é um processo de reflexão, de caminho interior. Ao longo da leitura, temos a convicção certa que quase sempre temos nas nossas visões imediatas e automáticas: uma partida de Deus, uma circunstância da vida menos boa que nos pode levar ao desespero...e afinal, a partida é outra, bem mais ao jeito de Deus.
Marta, obrigada pela sugestão!

sexta-feira, junho 15, 2012


Recuperar o tempo...sentar no chão e simplesmente ficar à conversa, tal como fazia nos meus tempos de estudante. :)

quinta-feira, janeiro 19, 2012

Aperto

Enquanto o sonho tem alma, vai calcorreando as entranhas de aventuras sem ilusões, sem realidades, mas com realezas, compassada pelo ponteiro do tempo que corre veloz ou se detém monotonamente diante de números mesmos, chatos e pouco inspiradores. Dentro deste desespero está ele, ora derretido ora sólido, de todas as cores, sem distinção de batimentos. Não sabe muito bem onde mora, se na complexidade da alma, se na podridão do corpo. Sabe que tem no pulsar algo que cheira a vida ou que pelo menos a isso se assemelha...

sábado, janeiro 14, 2012

Outros olhares




Talvez te falte escalar esse monte que te limita o horizonte, de facto, cá de baixo, não consegues ver muito mais do que o que te rodeia. Podias inspirar-te no céu e no sol que nele brilha, mas o céu ultrapassa-te e o sol faz-te sombra, o que não te apraz. Se te lavasses de ti mesmo, não serias ninguém, mas se te emproas em ti mesmo, és alguém "ninguenzado". Se eu pudesse, varria a paisagem e retirava-te esse monte por uns instantes, só para veres que depois dele continuam a existir pessoas que valem tanto como tu e outros verdejares tão ricos quanto o teu.

terça-feira, janeiro 03, 2012

Vulcões da insensibilidade...

Penso que nos tempos que correm, o importante é procurar acalmar e apaziguar as estruturas internas de cada ser humano, sobretudo as das crianças e dos jovens. Em vez de placar sonhos, devíamos consolidá-los, dar-lhes umas vitaminas extra. E depois, as crianças precisam de se ocupar de brincadeiras, precisam de sonhar com o que desejam ser no futuro, precisam de riscar paredes, brincar na lama e chapinhar na água sem se lembrarem de anunciados ralhetes, enfim, precisam de ser crianças. E os jovens carecem dos tão trágicos desgostos de amores que os levam às lágrimas infundadas, necessitam das rebeldias que fazem questão de ter para chamar a atenção e só porque nós, os adultos, fazemos questão de as contrariar, precisam de ser "cools" e dizer "bué", porque é "nice", precisam da alma teimosa, que nós bem sabemos que têm, mas no fundo enérgica e prometedora, para serem precisamente jovens!!! Com tanta profecia que para aí se apregoa, eu temo por todas estas necessidades, porque alguém lhes anda a ocupar os pensamentos com vulcões que arrasarão toda a Europa e com o tão temido "fim do mundo"!!! Ou seja, alguém anda a tratar de não haver mais crianças e jovens com tudo o que lhes pertence por idade e de quem nós, adultos, precisamos indubitavelmente. Por favor, sosseguem-nos, não os tornem ansiosos, chorosos, preocupados, já temos cá muito disso...apontem-lhes a vida e vivam com eles... deem-lhes esperança, porque afinal, se até sabemos muito no que à nossa disciplina diz respeito, ninguém sabe o conteúdo do dia de amanhã.

segunda-feira, janeiro 02, 2012

Make it well

Neste novo ano, impere no teu íntimo a esperança, a perseverança e a loucura que te faça desafiadoramente diferente no coração do mundo. Não esperes um ano bom, tens de ser tu a fazer o ano bom! ;)