O Luís trouxe-me uma revista que contém uma entrevista a Mia Couto. Do pouco que o Luís me conhece, sabe já, no entanto, que este senhor de olhos azul-infinito me provoca o espírito e inflama a profundidade onde ainda não cheguei. Sabe também que sou mulher de religiosidade esclarecida e convicta. E pergunta-me:
"- Sabias que Mia Couto não acredita em Deus?"
À pergunta "Acredita em Deus?", Mia Couto responde:
" Sou um ateu não praticante. Sou alguém que nem sequer precisa de pensar que tem de acreditar em alguma coisa. Os deuses estão dentro de mim e revelam-se quando estou no estado de comunhão e a beleza faz-me ver o lado divino. Sou religioso nesse sentido etimológico da palavra, de estar religado ao mundo e de encontrar, dentro de mim, essas pontes que me ligam ao resto do mundo."
Na minha vez, sorrindo,respondi ao Luís:
"- Sim, sabia! O que me fascina numa pessoa não é a religiosidade que tem ou deixa de ter, o que me cativa é o modo como olha o mundo, o sentido de justiça que lhe atribui e o que faz para o transformar."
O que me prende a Mia Couto é esse Deus em silêncio que ele tem dentro de si e que tão criativamente o liberta no que escreve, unindo-se ao emaranhado de gente que vive as suas histórias na realidade.
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