Carta Verde ao Pai Natal:
Porque não me trazes o meu Magalhães prometido?
Nos 60 anos (10.12.2008) da Declaração Universal dos Direitos Humanos, lembrando os meninos que ignoram a ilusão e a esperança de receber um presente de um pai natal qualquer…
Caríssimo Pai Natal,
Porque já me conheces de outros carnavais, pelo menos das cartas que te escrevi no Natal de 2003, 2004 e 2006, não precisarei de te lembrar que quando a ti me dirijo não é para exigir nada de pessoal, mas para te pedir pelos que mal podem falar ou para te sugerir que não nos mandes “mais presentes envenenados” (cf. Geresão de 12/2003).
Nesta missiva, não posso deixar de recordar essa carta aberta com palavras de revolta, onde te dizia que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”, como se lê no artigo 1.º da Declaração Universal dos Direitos HUMANOS, mesmo que haja sempre “uns mais iguais do que outros”. E, porque em 2008, se comemoram 60 anos sobre a criação da carta magna dos direitos das Pessoas (Gostei do Pessoas com letra maiúscula : )), queria dizer-te que é incrível que se continue a fazer diferença entre meninos maus (que não sabem porque o são e são-no sem o saber) e meninos bons (que o são sem querer e vivem sem o saber), sendo estes últimos os únicos, porque te pedem ou porque alguém lhos pede por eles, que recebem presentes, Pai Natal!
Por isso, nesta carta verde que hoje te escrevo, volto a protestar não só contigo, mas também com os CTT – Correios de Portugal que, depois do correio normal (que ficou anormal), do correio azul (que deixou de ser rápido), inventaram agora o correio verde, que pretende ser mais rápido (e mais caro, claro), mas são incapazes de responder às cartas ou aos pedidos dos meninos que não sabem escrever ou daqueles que não sabem e não podem pedir, mesmo que, no fundo, não sejam maus… Imagina até que, nas cidades, os meninos que vão às grandes lojas de brinquedos já têm lá cartas escritas para te mandar e, assim, te poderem pedir, mesmo os maus, muitas prendas no Natal!
Mas o pior de tudo, Pai Natal, e essa é a grande razão desta minha nova carta de revolta, é aquilo que os senhores do Governo andam a fazer num pequeno país chamado Portugal. Eles, porque se dizem engenheiros, inventaram um novo brinquedo chamado Magalhães, que prometeram oferecer a todos os meninos que andam nas Escolas de aprender a ler, a escrever e a contar.
Só que, antes mesmo de os meninos terem essa coisa a que chamam computador para crianças, os senhores do Governo já andavam a brincar com ele e a rir, em vez de trabalharem e de resolverem os graves problemas do nosso pobre País.
Entretanto, uma senhora doutora muito severa chamada Lurdes, a tal que se lembrou de avaliar os nossos professores, que agora não têm tempo para nos ensinar, anda pelas nossas Escolas a falar e a prometer o computador Magalhães, acompanhada de outro senhor sorridente chamado Sócrates, de quem eu na Escola aprendi ter sido um filósofo grego morto há muito tempo, mesmo antes do teu amigo Jesus Cristo(Jesus Cristo é amigo do Pai Natal? Nunca percebi muito bem esta mistura do pagão com o cristão…aliás, o que eu não percebo mesmo é que os cristãos assim se deixem envolver por tradições pagãs…), mas que dizem (agora) que se faz passar por engenheiro e por governante do nosso País.
Para tu perceberes bem as coisas estranhas que por aqui se passam, vou apenas contar-te três estórias diferentes, mas todas relacionadas com esse novo brinquedo.
Na aldeia do Luisinho, em Covide, que fica muito longe, lá na serra do Gerês, e onde este mês já caiu neve e aonde tu, assim, já podes ir - o que nunca até hoje fizeste; nessa aldeia, no início deste ano lectivo, os meninos e a senhora Professora, em vez de aprenderem a ler, a escrever e a contar, andaram a preencher uns papéis para receber o Magalhães, com a promessa de que todos os meninos, que são pobres, teriam direito A esse brinquedo de graça. Mas também, Pai Natal, se é um brinquedo, se é um presente, se eles são pobres e se a senhora Professora também o é, POR QUE RAZÃO ( aqui não se aplicaria melhor “ por que”?) haveriam de o pagar? Só que até hoje, e o Natal está mesmo a chegar, nada de brinquedos, nada de prendas, nada de Magalhães… mesmo que esses meninos se tenham portado muito bem.
Na cidade de Braga, onde vive o primo do Luisinho, o Tó Quico, numa escola perto da casa dele, o senhor que foi filósofo e agora é engenheiro, passou por lá, vestiu a tua roupa, mesmo sem ser ele o Pai Natal, e ofereceu o Magalhães a todos os meninos da escola que fica perto do trabalho do pai do Tó Quico! O pai do Tó, que também é professor, soube que este brinquedo foi pago por um senhor da cidade, que é muito amigo das pessoas que são amigas dele. Então o Tó perguntou: - Pai, se é um presente prometido pelo engenheiro Sócrates, porque tem de ser o senhor de Braga a pagá-lo? E porque é que eu, que sou de Covide, mas também de Braga, não recebi nem lá nem cá o meu Magalhães?... Aí, o pai do Tó disse-lhe, sem a mãe ouvir, que ele não queria falar mais disso, que o Magalhães tinha ido com os cães e que ele não percebia nada dessas coisas de presentes de uns que são pagos por outros. Ou melhor: que sabia, mas que essas eram coisas de pessoas grandes e não de meninos que não sabem ler as coisas!...
O pior, porém, Pai Natal, não tinha ainda acontecido! Na terra do Dinis, um amigo do Tó, os meninos também receberam a visita da senhora severa e do senhor sorridente, que lhes vieram trazer o brinquedo Magalhães. Os meninos estavam na sua escola e já tinham todos o presente oferecido em cima das suas mesas e estavam, claro, todos muito felizes, porque já iam poder brincar, coisa que não faziam há muito tempo. Só que, por magia, depois de os dois senhores do Governo passarem pela Escola, que fica em Ponte de Lima, a vila mais antiga de Portugal, os computadores desapareceram e houve alguém que disse mesmo, como o pai do Tó: - O Magalhães foi com os cães…
E diz-me tu, Pai Natal, que me pareces bom e justo: - Como é possível prometerem, aos meninos pobres da aldeia, um brinquedo e não o darem; prometerem e darem um brinquedo, aos meninos bonitos da cidade; darem e tirarem um brinquedo, aos meninos tristes da vila? Por isso, meu bom amigo Pai Natal, eu te pergunto, quase a chorar: - Porque fazem eles destas coisas estranhas neste País pequeno onde, por acaso, também cai neve? E porque não me trouxeste ainda o meu Magalhães prometido pelo senhor do Governo, pelo meu pai e por ti também, pois claro?! Porquê, Pai Natal? Porquê, se eu também sou um menino de Portugal e gosto tanto (ou mais) de brincar quanto os senhores grandes do Governo brincam (connosco)?
Se não me trouxeres mesmo o meu Magalhães preferido, já que o meu pai também não o deixaria entrar aqui em casa, pelo menos, Pai Natal, responde-me a esta carta que é verde (talvez de raiva, como se dizia no tempo da minha avó…), e que também é verde, porque eu tenho ainda alguma ilusão e alguma esperança em ti…
António Carvalho da SilvaPorque não me trazes o meu Magalhães prometido?
Nos 60 anos (10.12.2008) da Declaração Universal dos Direitos Humanos, lembrando os meninos que ignoram a ilusão e a esperança de receber um presente de um pai natal qualquer…
Caríssimo Pai Natal,
Porque já me conheces de outros carnavais, pelo menos das cartas que te escrevi no Natal de 2003, 2004 e 2006, não precisarei de te lembrar que quando a ti me dirijo não é para exigir nada de pessoal, mas para te pedir pelos que mal podem falar ou para te sugerir que não nos mandes “mais presentes envenenados” (cf. Geresão de 12/2003).
Nesta missiva, não posso deixar de recordar essa carta aberta com palavras de revolta, onde te dizia que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”, como se lê no artigo 1.º da Declaração Universal dos Direitos HUMANOS, mesmo que haja sempre “uns mais iguais do que outros”. E, porque em 2008, se comemoram 60 anos sobre a criação da carta magna dos direitos das Pessoas (Gostei do Pessoas com letra maiúscula : )), queria dizer-te que é incrível que se continue a fazer diferença entre meninos maus (que não sabem porque o são e são-no sem o saber) e meninos bons (que o são sem querer e vivem sem o saber), sendo estes últimos os únicos, porque te pedem ou porque alguém lhos pede por eles, que recebem presentes, Pai Natal!
Por isso, nesta carta verde que hoje te escrevo, volto a protestar não só contigo, mas também com os CTT – Correios de Portugal que, depois do correio normal (que ficou anormal), do correio azul (que deixou de ser rápido), inventaram agora o correio verde, que pretende ser mais rápido (e mais caro, claro), mas são incapazes de responder às cartas ou aos pedidos dos meninos que não sabem escrever ou daqueles que não sabem e não podem pedir, mesmo que, no fundo, não sejam maus… Imagina até que, nas cidades, os meninos que vão às grandes lojas de brinquedos já têm lá cartas escritas para te mandar e, assim, te poderem pedir, mesmo os maus, muitas prendas no Natal!
Mas o pior de tudo, Pai Natal, e essa é a grande razão desta minha nova carta de revolta, é aquilo que os senhores do Governo andam a fazer num pequeno país chamado Portugal. Eles, porque se dizem engenheiros, inventaram um novo brinquedo chamado Magalhães, que prometeram oferecer a todos os meninos que andam nas Escolas de aprender a ler, a escrever e a contar.
Só que, antes mesmo de os meninos terem essa coisa a que chamam computador para crianças, os senhores do Governo já andavam a brincar com ele e a rir, em vez de trabalharem e de resolverem os graves problemas do nosso pobre País.
Entretanto, uma senhora doutora muito severa chamada Lurdes, a tal que se lembrou de avaliar os nossos professores, que agora não têm tempo para nos ensinar, anda pelas nossas Escolas a falar e a prometer o computador Magalhães, acompanhada de outro senhor sorridente chamado Sócrates, de quem eu na Escola aprendi ter sido um filósofo grego morto há muito tempo, mesmo antes do teu amigo Jesus Cristo(Jesus Cristo é amigo do Pai Natal? Nunca percebi muito bem esta mistura do pagão com o cristão…aliás, o que eu não percebo mesmo é que os cristãos assim se deixem envolver por tradições pagãs…), mas que dizem (agora) que se faz passar por engenheiro e por governante do nosso País.
Para tu perceberes bem as coisas estranhas que por aqui se passam, vou apenas contar-te três estórias diferentes, mas todas relacionadas com esse novo brinquedo.
Na aldeia do Luisinho, em Covide, que fica muito longe, lá na serra do Gerês, e onde este mês já caiu neve e aonde tu, assim, já podes ir - o que nunca até hoje fizeste; nessa aldeia, no início deste ano lectivo, os meninos e a senhora Professora, em vez de aprenderem a ler, a escrever e a contar, andaram a preencher uns papéis para receber o Magalhães, com a promessa de que todos os meninos, que são pobres, teriam direito A esse brinquedo de graça. Mas também, Pai Natal, se é um brinquedo, se é um presente, se eles são pobres e se a senhora Professora também o é, POR QUE RAZÃO ( aqui não se aplicaria melhor “ por que”?) haveriam de o pagar? Só que até hoje, e o Natal está mesmo a chegar, nada de brinquedos, nada de prendas, nada de Magalhães… mesmo que esses meninos se tenham portado muito bem.
Na cidade de Braga, onde vive o primo do Luisinho, o Tó Quico, numa escola perto da casa dele, o senhor que foi filósofo e agora é engenheiro, passou por lá, vestiu a tua roupa, mesmo sem ser ele o Pai Natal, e ofereceu o Magalhães a todos os meninos da escola que fica perto do trabalho do pai do Tó Quico! O pai do Tó, que também é professor, soube que este brinquedo foi pago por um senhor da cidade, que é muito amigo das pessoas que são amigas dele. Então o Tó perguntou: - Pai, se é um presente prometido pelo engenheiro Sócrates, porque tem de ser o senhor de Braga a pagá-lo? E porque é que eu, que sou de Covide, mas também de Braga, não recebi nem lá nem cá o meu Magalhães?... Aí, o pai do Tó disse-lhe, sem a mãe ouvir, que ele não queria falar mais disso, que o Magalhães tinha ido com os cães e que ele não percebia nada dessas coisas de presentes de uns que são pagos por outros. Ou melhor: que sabia, mas que essas eram coisas de pessoas grandes e não de meninos que não sabem ler as coisas!...
O pior, porém, Pai Natal, não tinha ainda acontecido! Na terra do Dinis, um amigo do Tó, os meninos também receberam a visita da senhora severa e do senhor sorridente, que lhes vieram trazer o brinquedo Magalhães. Os meninos estavam na sua escola e já tinham todos o presente oferecido em cima das suas mesas e estavam, claro, todos muito felizes, porque já iam poder brincar, coisa que não faziam há muito tempo. Só que, por magia, depois de os dois senhores do Governo passarem pela Escola, que fica em Ponte de Lima, a vila mais antiga de Portugal, os computadores desapareceram e houve alguém que disse mesmo, como o pai do Tó: - O Magalhães foi com os cães…
E diz-me tu, Pai Natal, que me pareces bom e justo: - Como é possível prometerem, aos meninos pobres da aldeia, um brinquedo e não o darem; prometerem e darem um brinquedo, aos meninos bonitos da cidade; darem e tirarem um brinquedo, aos meninos tristes da vila? Por isso, meu bom amigo Pai Natal, eu te pergunto, quase a chorar: - Porque fazem eles destas coisas estranhas neste País pequeno onde, por acaso, também cai neve? E porque não me trouxeste ainda o meu Magalhães prometido pelo senhor do Governo, pelo meu pai e por ti também, pois claro?! Porquê, Pai Natal? Porquê, se eu também sou um menino de Portugal e gosto tanto (ou mais) de brincar quanto os senhores grandes do Governo brincam (connosco)?
Se não me trouxeres mesmo o meu Magalhães preferido, já que o meu pai também não o deixaria entrar aqui em casa, pelo menos, Pai Natal, responde-me a esta carta que é verde (talvez de raiva, como se dizia no tempo da minha avó…), e que também é verde, porque eu tenho ainda alguma ilusão e alguma esperança em ti…
P.S. – E, porque podes não acreditar em mim por ser ainda criança, mando-te a cópia que o meu pai me mandou fazer, como castigo por eu lhe estar sempre a falar do Magalhães: é uma notícia intitulada “Magalhães, só para a fotografia”, publicada numa revista chamada Visão (N.º 820, 20/11/2008, p. 34). Parece que os senhores, os jornalistas, que fazem sempre MUITAS perguntas como nós, as crianças, vêem e percebem já algumas coisas, entre as quais esta história estranha do Magalhães, que veio para Portugal depois de um outra ideia, de que eu até gostava, que era o Ler+…
Braga e U.M., 10/12/2008
ACSILVA@IEP.UMINHO.PT
2 comentários:
Bom quanto a politica prefiro nao me manifestar, contudo digamos que está uma carta muito engraçada, e que retrata a situação actual do Magalhães...
Tens aqui um cantinho muito giro...
é a primeira vez que cá venho...
UM beijinho :D:D
Sandrita 1080
Apenas uma nota extra: diz-nos o SOL do dia 13/12/2008, pág. 1, que o MAGALHÃES não chega(rá) à Madeira. Talvez seja o Dr. Jardim que não quer pagar a conta da festa do Eng. Sócrates e até com a sua razão. Todavia, aqui e mais uma vez, quem se lixa (com um F grande!) é o mexilhão, ou seja, as meninas e os meninos da Ilha da Madeira que, por esta razão, deixam de ter direito a um direito fundamental - ser igual a uma qualquer criança do continente que recebeu esse brinquedo, de graça. Bordalo Pinheiro chamou a isto a "porca da política". ACSilva
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