Anteontem foi ao encontro do meu melhor amigo. Os amigos quando estão juntos colocam a conversa em dia, partilham novidades, sentimentos, opiniões. Nós, porém, permanecemos calados durante todo o tempo que o encontro durou. Verifiquei que, de igual modo, outros O procuraram e não me apeteceu encher-Lhe os ouvidos de preces, não me apetecia mesmo rezar, nem pedir, nem agradecer, mas fiquei ali sentada ao longo de minutos que não contei. Se tive pensamentos, deles não me recordo, tudo tem outra dimensão ali, só assim no silêncio...Enquanto Ele arquivava orações quem sabe para efeitos futuros de defesa pessoal dos orantes diante dEle próprio, as palavras todas se ausentaram de mim. Quando vim embora, pedi-Lhe desculpa por O ter incomodado para Lhe dizer nada. Respondeu-me sem palavras também, afinal eu merecia, mas encheu-me de confiança e de paz.
Ontem cheguei à igreja não para silenciar, mas para cantar. A espécie humana tem destas coisas, uns dias calam, outros dias cantam. Esperava vê-lo cá fora, ele está sempre cá fora, no entanto, desta vez não estava. Achei estranho, tinha quase a certeza de que ele não faltaria à cantoria. Decidi entrar para cumprimentar o meu melhor amigo e o coração bateu-me mais forte de espanto e de alegria. Diante do altar, bem lá no cima, bem pertinho dEle, sozinho, estava ele meio embrulhado no escuro e em silêncio...
Parece que andamos todos de palavras gastas e eu bem sei que aquela atitude, para mim e só para mim, não foi mera coincidência...
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