" As estrelas são os olhos de quem morreu de amor. Ficam-nos contemplando de cima a mostrar que só o Amor concede eternidades."
Mia Couto
quarta-feira, janeiro 30, 2008
Oração morta???
Nunca entendi muito bem a razão de os defuntos levarem um terço nas mãos. Podem dizer-me que é tradição, que é sinal da devoção e crença da pessoa, mas mesmo assim confunde-me. Dá-me uma ideia de oração morta e parece que só seremos reconhecidos por o levarmos entre as mãos. Ainda que o tenham desfiado muitas vezes na terra, continua a fazer-me confusão. E às vezes dá-me a sensação de que não é mais do que um último pedido do defunto "Rezai por mim". Os que cá ficam têm a obrigação de o fazer, mas algumas vezes também me parece que a oração é mais morta para os vivos do que para os mortos. Não compreendo muitas coisas, sei muito pouco e tenho ainda mais dúvidas. O terço que também morre nas mãos do defunto é também uma espécie de passa a tarefa de rezar para quem já não o pode fazer. Como se deve estar num velório? Há quem se disponibilize para rezar o terço, há quem chore a perda do ente querido, há quem permaneça calado em união com o sofrimento dos outros...e há quem fale, fale, fale...alto, alto, alto... e de coisas banais que não têm lugar ali. Onde é que a oração estará mais morta? No defunto ou na boca de quem a pode proferir e não o faz?
domingo, janeiro 27, 2008
Vocação...
A vocação é um chamamento, uma inclinação para certo género de vida. Cada um com os seus dons e talentos procura dar a melhor resposta ao que interiormente fervilha, natural e inevitavelmente, sem cessar. Há pessoas que a encontram facilmente e há outras que se prolongam mais um bocadinho na escolha do trilho mais adequado e ajustado.
Hoje sinto necessidade de dizer que, para mim, a vocação não é feita nem reconhecida com elogios, cheia de palmadinhas nas costas, para nos fazermos bonitos à frente de alguém. A vocação é silenciosa e propaga-se de mansinho por todos os poros da alma, até se impregnar por completo, a fim de concretizarmos o mais perfeitamente possível a nossa missão, seja ela qual for. E mesmo depois de descoberta, a vocação continua a ser silenciosa nas obras das nossas mãos... Se não existem certezas daquilo que realmente nos compete fazer, deixemo-nos estar calados, só assim poderemos escutar atentamente o que Deus nos sussurra ao coração e Lhe deixamos espaço aberto para que manifeste o que quer que nós façamos. Só no nosso silêncio com Deus seremos capazes de ter convicções.
sexta-feira, janeiro 25, 2008
Aquela porta...
Tem dois olhos grandes, anormais, em forma de rectângulos dispostos na vertical; um nariz disfuncional que não recebe cheiros, apenas tactos; e uma boca opaca, muda, com uma abertura própria para só deixar passar palavras escritas. Não sai do sítio e consegue ultrapassar-me, aquela porta! Consciente das limitações que me couberam em sorte, aquela porta limita-me para lá do que eu seja incapaz de realizar. Parece que divide o mundo ao meio e metade desse mundo eu não consigo ( ainda? ) percepcionar. Mostra-me a esperança e mostra-me o desalento, dependendo se a minha acção é sair ou entrar. Na lógica, devia entrar na esperança e sair do desalento, porém, absurdamente, entro no desalento e saio com esperança. É indefinível para mim e imperceptível para quem não lhe atravessa a soleira constantemente, por isso, já não digo a ninguém que aquela porta é mais do que isso mesmo, já não deixo que ela oiça os meus limites para me poder ultrapassar. Continua a dividir-me o mundo, mas enquanto isso, eu vou estando no silêncio da resignação para um dia deixar de ter dificuldades em compreender do que é que ela é realmente feita, e não é de alumínio!...
terça-feira, janeiro 22, 2008
domingo, janeiro 20, 2008
O Cavaleiro da Armadura Enferrujada
Fez-me lembrar tempos acentuados e críticos da história ( se bem que ainda hoje haja resquícios desses tempos ), em que se liam livros censurados à luz da lanterna, debaixo dos cobertores. Leu o livro " O Cavaleiro da Armadura Enferrujada " à luz da lanterna. Não porque seja um livro interdito, mas porque lhe apagam as luzes às 22 horas, visto estar na formação de militares da G.N.R.
Podia resignar-se e acolher a escuridão com o sono, mas prefere ler. Tem uma vontade enorme de se instruir interior e espiritualmente, de avançar e de contrariar o negrume exterior com o brilho interno dele. Não permite, de maneira alguma, enferrujar-se..........
sábado, janeiro 19, 2008
Muito mais do que uma visita...
Depois de algum tempo, fisicamente impossibilitada de ir à catequese, a catequista regressou hoje à sua pequena missão! Antes do início do tema, o Sr.Padre tem por costume abeirar-se do grupo do terceiro ano com meia dúzia de perguntas, geralmente referentes ao Evangelho do Domingo anterior. Mas hoje fez uma questão diferente. "Sabeis por que é que a vossa catequista tem faltado?" Uma menina de braço no ar aprontou-se logo a dizer que era por ter sido operada. "E vós fostes lá visitá-la?", continuou ele. E todos os meninos se calaram, como se uma culpa terrível se abatesse sobre eles. "Ninguém foi?Mas então não sois amigos da vossa catequista?" E os meninos continuaram em silêncio. A catequista falou neste momento e disse, para de certa forma os "acalmar", que sabia que todos eram amigos dela e que não tinha ficado nada triste por não terem ido vê-la. Afinal, alguns até nem sabiam...Acalmar, sim...Pois, quando olhou para a pequenina que tinha respondido à primeira pergunta do Sr. Padre, esta tinha os olhos cheios de lágrimas, não as deixou sair, a mexer-se constantemente na cadeira, mas não sabia mais como conseguir rete-las. Desejando a catequista que o Sr. Padre não insistisse na questão, aquela criança tinha-a tocado profundamente, porque aquela menina lhe tinha manifestado, ali, o verdadeiro dom de ser, de nos tornarmos crianças, que inesperada e incrivelmente tomam a consciência que um adulto tem algumas vezes dificuldade em possuir!Porque aquela menina lhe fez muito mais do que uma visita!Em muitas ocasiões, para nos visitarem é preciso realmente estarmos abertos à visita dos ensinamentos que um pequeno ser nos pode oferecer.
No final, todos cantaram e sairam da igreja com um grande sorriso no rosto. :)
sexta-feira, janeiro 18, 2008
Atei os meus braços com a tua Lei, Senhor,
E nunca os meus braços chegaram tão alto.
Ceguei os meus olhos com a tua Luz, Senhor,
E nunca os meus olhos viram tão longe!
Só desde que Te dei a minha alma, Senhor,
Ela é verdadeiramente minha.
Por isso, hei-de subir até à Vida,
Despedaçando o corpo na subida.
Por isso, hei-de gritar, de porta em porta,
A mentira das noites sem estrelas;
Hei-de fazer florir açucenas nos meus lábios;
Hei-de apertar a mão que me castiga;
Hei-de beijar a cinza dos escombros;
Hei-de esmagar a dor
E hei-de trazer, aqui, sobre os meus ombros,
A tua cruz, Senhor!
Hino do Ofício de Leitura das Sextas-feiras
E nunca os meus braços chegaram tão alto.
Ceguei os meus olhos com a tua Luz, Senhor,
E nunca os meus olhos viram tão longe!
Só desde que Te dei a minha alma, Senhor,
Ela é verdadeiramente minha.
Por isso, hei-de subir até à Vida,
Despedaçando o corpo na subida.
Por isso, hei-de gritar, de porta em porta,
A mentira das noites sem estrelas;
Hei-de fazer florir açucenas nos meus lábios;
Hei-de apertar a mão que me castiga;
Hei-de beijar a cinza dos escombros;
Hei-de esmagar a dor
E hei-de trazer, aqui, sobre os meus ombros,
A tua cruz, Senhor!
Hino do Ofício de Leitura das Sextas-feiras
quinta-feira, janeiro 17, 2008
Um todo...
Quem os ouvir falar parece que só têm metade da cara! Fulano ou sicrano é a minha cara metade. E agora pergunto: quem fica solteiro anda a vida toda desfacelado?Ou será que completar a cara é só direito ou possibilidade de alguns? Cada ser humano é um todo e, portanto, não pode em circunstância nenhuma andar por aí partido ao meio! Um todo unido a outro todo forma um todo...
Romantismo sim, mas sejamos íntegros!
quarta-feira, janeiro 16, 2008
O peso do papel
Uma pobre senhora, com visível ar de tristeza estampado no rosto, entrou numa mercearia, aproximou-se do proprietário, conhecido pelo seu modo grosseiro, e pediu-lhe fiado alguns mantimentos. Explicou que o seu marido estava muito doente, não podia trabalhar e que tinha sete filhos para alimentar.
O merceeiro riu-se dela e ordenou que se retirasse do seu estabelecimento.
Pensando na necessidade da sua família ela implorou:
- Por favor senhor, eu dar-lhe-ei o dinheiro assim que o tiver…
Ele respondeu-lhe que ela não tinha crédito nem conta na sua loja.
Um outro freguês, que estava por perto e assistira a este drama, aproximou-se do dono da mercearia e disse-lhe que ele deveria dar o que aquela mulher necessitava para a sua família, por sua conta.
Então, o comerciante falou meio relutante para a pobre mulher:
- Você tem uma lista de mantimentos?
- Sim – respondeu ela.
- Muito bem, coloque a sua lista na balança e o quanto ela pesar, eu lhe darei em mantimentos!
A pobre mulher hesitou por uns instantes e com a cabeça curvada, retirou da bolsa um pedaço de papel, escreveu alguma coisa e o depositou suavemente na balança.
Os três ficaram admirados quando o prato da balança com o papel desceu e permaneceu em baixo. Completamente pasmado com o marcador da balança, o comerciante virou-se lentamente para o seu freguês e comentou contrariado:
- Eu não posso acreditar!
O freguês sorriu e o homem começou a colocar os mantimentos no outro prato da balança.
Como a escala da balança não equilibrava, ele continuou colocando outros mantimentos até não caber mais nada.
O comerciante ficou parado ali por uns instantes olhando para a balança, tentando entender o que havia acontecido.
Finalmente, ele pegou no pedaço de papel da balança e ficou espantado, pois não era uma lista de compras e sim uma oração que dizia: « Meu Deus, Vós conheceis as minhas necessidades e deixo tudo nas Tuas mãos».
O homem deu a mercearia à pobre mulher no mais completo silêncio. Ela agradeceu e saiu da mercearia. O freguês pagou a conta e disse:
- Valeu cada cêntimo. Só Deus sabe o quanto pesa uma oração!
O merceeiro riu-se dela e ordenou que se retirasse do seu estabelecimento.
Pensando na necessidade da sua família ela implorou:
- Por favor senhor, eu dar-lhe-ei o dinheiro assim que o tiver…
Ele respondeu-lhe que ela não tinha crédito nem conta na sua loja.
Um outro freguês, que estava por perto e assistira a este drama, aproximou-se do dono da mercearia e disse-lhe que ele deveria dar o que aquela mulher necessitava para a sua família, por sua conta.
Então, o comerciante falou meio relutante para a pobre mulher:
- Você tem uma lista de mantimentos?
- Sim – respondeu ela.
- Muito bem, coloque a sua lista na balança e o quanto ela pesar, eu lhe darei em mantimentos!
A pobre mulher hesitou por uns instantes e com a cabeça curvada, retirou da bolsa um pedaço de papel, escreveu alguma coisa e o depositou suavemente na balança.
Os três ficaram admirados quando o prato da balança com o papel desceu e permaneceu em baixo. Completamente pasmado com o marcador da balança, o comerciante virou-se lentamente para o seu freguês e comentou contrariado:
- Eu não posso acreditar!
O freguês sorriu e o homem começou a colocar os mantimentos no outro prato da balança.
Como a escala da balança não equilibrava, ele continuou colocando outros mantimentos até não caber mais nada.
O comerciante ficou parado ali por uns instantes olhando para a balança, tentando entender o que havia acontecido.
Finalmente, ele pegou no pedaço de papel da balança e ficou espantado, pois não era uma lista de compras e sim uma oração que dizia: « Meu Deus, Vós conheceis as minhas necessidades e deixo tudo nas Tuas mãos».
O homem deu a mercearia à pobre mulher no mais completo silêncio. Ela agradeceu e saiu da mercearia. O freguês pagou a conta e disse:
- Valeu cada cêntimo. Só Deus sabe o quanto pesa uma oração!
terça-feira, janeiro 15, 2008
Vingança
Tenho por hábito vingar-me das pessoas e não perco uma oportunidade para o fazer!Ainda que demore tempo, anos até, mas vingo-me de quem me magoa. Dá-me um gozo enorme colocar a vingança em acção e é muito simples! Fica aqui a receita para quem quiser experimentar.
A todas as pessoas que, de uma ou de outra forma, me ferem, ofereço-lhes em troca todas as acções e/ou palavras contrárias àquelas que elas tiveram para comigo.
Funciona...e é tão mais gratificante :) :) :).
Beijinho sereno
A todas as pessoas que, de uma ou de outra forma, me ferem, ofereço-lhes em troca todas as acções e/ou palavras contrárias àquelas que elas tiveram para comigo.
Funciona...e é tão mais gratificante :) :) :).
Beijinho sereno
segunda-feira, janeiro 14, 2008
Deficiências
'Deficiente' é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
'Louco' é quem não procura ser feliz com o que possui.
'Cego' é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
'Surdo' é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
'Louco' é quem não procura ser feliz com o que possui.
'Cego' é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
'Surdo' é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
'Mudo' é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
'Paralítico' é quem não consegue andar na direcção daqueles que precisam de sua ajuda. 'Diabético' é quem não consegue ser doce.
'Anão' é quem não sabe deixar o amor crescer.
E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável , pois:
"A amizade é um amor que nunca morre."
Mário Quintana
'Paralítico' é quem não consegue andar na direcção daqueles que precisam de sua ajuda. 'Diabético' é quem não consegue ser doce.
'Anão' é quem não sabe deixar o amor crescer.
E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável , pois:
"A amizade é um amor que nunca morre."
Mário Quintana
Chorar...
Parece um dom com o qual fomos brindados. Chorar permite-nos soltar alegrias, dores, revoltas, o que por palavras não conseguimos expressar. E parece, ao mesmo tempo, senhor e soberano de todas as emoções. Se, porventura, se reprime, não se deixa ficar inerte, persiste lá dentro, a pressionar, a volver à procura de uma fragilidade, que pode nem ser a maior, para se evadir sorrateiro e quando avista a cor dos olhos, anima-se rejubilante, vindo na sua força toda, que coincide com o nosso limite.
Não choro, porque choro...Choro, porque me sinto. Choro depois de sentir que a minha voz é embargada e pequena. Choro sozinha, mas também diante de algumas pessoas. E chorar diante de alguém é ainda mais sublime. É partilhar através das lágrimas o que nos consome. Não se esperam soluções de quem nos vê chorar, mas colocamos naquela pessoa a esperança de um conforto, ainda que calado. Encontramos nela e só por ela própria o alívio que nenhumas palavras poderiam dar.
domingo, janeiro 13, 2008
A espiritualidade da refeição
O meu pai é um anfitrião exemplar. Quando alguém chega a nossa casa, logo na mesa se coloca algo para comer. Não importa a hora, e o meu pai come tantas vezes quantas forem as visitas, porque quer que as pessoas se sintam à vontade e gosta ainda mais que aceitem o convite. Não é sem propósito que vos falo do meu pai, que tem sido um sinal constante de Deus para mim, que tantas vezes recusei o Seu convite.
Andamos não raras vezes em estados de ansiedade acentuados, com aquela sensação estranha e aborrecida de que falta qualquer coisa e não se imagina o quê. A primeira tentativa de preenchimento desse vazio procuramo-la inevitavelmente em aspectos materiais e quase nunca nos lembramos que a lacuna pode ser espiritual.
Tive alguns desses espaços ocos mesmo durante as celebrações eucarísticas e, embora eu tivesse sempre uma participação activa, esse “não sei quê” de vazio assaltava-me ferozmente, o que me fazia questionar a razão pela qual me sentia eu assim se tinha ido ao Seu encontro e se supostamente me devia sentir bem. A verdade é que eu apenas acedia ao Seu chamamento para ir até Sua casa, mas apenas uma única vez por ano aceitava verdadeiramente o Seu convite.
Hoje, vejo nitidamente que através do meu pai, através daquela “sede” de tudo, através de “amigos luz”, Deus me falava paciente e incansavelmente até eu descobrir o que realmente me faltava. Compreendi, por fim, a espiritualidade da refeição…Eu não a entendi na primeira vez que a li num poema. Sabeis qual é? É o “saciar o mundo”…Jesus faz-se presente na hóstia consagrada e convida-nos a juntarmo-nos a Ele, abre-nos o caminho para a partilha, alimentando-nos e consequentemente, fortalecendo-nos.
Foi um despertar o voltar a comungar com frequência… Se amo a Jesus, o meu relacionamento com Ele tem de ser profundo e íntimo. Tenho de chegar até Ele através da sua forma e manifestação mais simples que é a Eucaristia, vivendo-a de uma forma completa e particular. Sei, por isso, que toda a minha serenidade é daí que nasce. Sei que este Alimento, o verdadeiro, me tem feito olhar e viver as adversidades de cada dia com muita mais tranquilidade e confiança. Sei que me faltam ainda algumas coisas, mas eu conheço-as, são concretas. E sabeis ainda outra coisa? Nunca mais aquela ausência de “não sei quê” me invadiu e eu sinto-me feliz por não ter tudo, sinto-me afortunada por ter em mim o fundamental: Jesus, o meu Sustento.
Andamos não raras vezes em estados de ansiedade acentuados, com aquela sensação estranha e aborrecida de que falta qualquer coisa e não se imagina o quê. A primeira tentativa de preenchimento desse vazio procuramo-la inevitavelmente em aspectos materiais e quase nunca nos lembramos que a lacuna pode ser espiritual.
Tive alguns desses espaços ocos mesmo durante as celebrações eucarísticas e, embora eu tivesse sempre uma participação activa, esse “não sei quê” de vazio assaltava-me ferozmente, o que me fazia questionar a razão pela qual me sentia eu assim se tinha ido ao Seu encontro e se supostamente me devia sentir bem. A verdade é que eu apenas acedia ao Seu chamamento para ir até Sua casa, mas apenas uma única vez por ano aceitava verdadeiramente o Seu convite.
Hoje, vejo nitidamente que através do meu pai, através daquela “sede” de tudo, através de “amigos luz”, Deus me falava paciente e incansavelmente até eu descobrir o que realmente me faltava. Compreendi, por fim, a espiritualidade da refeição…Eu não a entendi na primeira vez que a li num poema. Sabeis qual é? É o “saciar o mundo”…Jesus faz-se presente na hóstia consagrada e convida-nos a juntarmo-nos a Ele, abre-nos o caminho para a partilha, alimentando-nos e consequentemente, fortalecendo-nos.
Foi um despertar o voltar a comungar com frequência… Se amo a Jesus, o meu relacionamento com Ele tem de ser profundo e íntimo. Tenho de chegar até Ele através da sua forma e manifestação mais simples que é a Eucaristia, vivendo-a de uma forma completa e particular. Sei, por isso, que toda a minha serenidade é daí que nasce. Sei que este Alimento, o verdadeiro, me tem feito olhar e viver as adversidades de cada dia com muita mais tranquilidade e confiança. Sei que me faltam ainda algumas coisas, mas eu conheço-as, são concretas. E sabeis ainda outra coisa? Nunca mais aquela ausência de “não sei quê” me invadiu e eu sinto-me feliz por não ter tudo, sinto-me afortunada por ter em mim o fundamental: Jesus, o meu Sustento.
(Texto escrito há dois anos atrás)
" Não te admires que eu tenha dito que é preciso nascer de novo."
O sacramento do Baptismo é a porta de todos os outros sacramentos. É um novo nascimento; a incorporação em Cristo como membros do seu Corpo, que é a Igreja; a passagem das trevas para a luz; é um sacramento de fé e de amor...é um sacramento de compromisso, traduzindo a nossa vida no Pai-Nosso que rezamos, traduzindo a nossa vida nos passos de Cristo.
Foi Jesus que instituiu o sacramento do Baptismo e não João Baptista, sendo que este vem "mover ao arrependimento para remissão dos pecados", reconhecendo Jesus através do Espírito Santo e da Voz de Deus: " Este é o meu filho muito amado, no qual pus as minhas complascências."
O baptismo de Jesus é uma manifestação da Santíssima Trindade:
- o Pai que fala;
- o Filho que recebe o baptismo, inserido no mistério pascal morte-ressurreição;
- e o Espírito Santo, em forma de pomba, que faz de nós Seu Templo.
Jesus é filho de Deus por natureza, os homens baptizados são filhos de Deus por adopção filial.
Baptizado, Jesus está preparado para:
- ser o Messias;
- e assumir a sua missão diante dos homens, que é a de cumprir a vontade do Pai, de evangelizar/anunciar o Reino de Deus e de salvar a humanidade.
E nós como baptizados estamos preparados para quê?Temos realmente consciência da nossa missão? Quando alguém é baptizado e se achar conveniente, o celebrante toca a boca e os ouvidos do neófito, a fim de que se abram à escuta da Palavra de Deus e proclamem a Fé recebida. Sabei, porém, que não convém ficar nas palavras...Ser baptizado, ser cristão é antes de tudo "um modo de vida"....é um nascer constante, a cada dia, como sinal da presença de Cristo e da missão que nos acompanha!É um renovar de compromisso perene...
"Não te admires que eu tenha dito que é preciso nascer de novo. O vento sopra onde quer e ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim é todo aquele que nasceu do Espírito." ( Jo 3, 7-8)
sábado, janeiro 12, 2008
" Na oração é preferível ter um coração sem palavras, que palavras sem coração."
Gosto do Inverno. :) Por várias razões...É tudo mais sossegado, mais aconchegado!
No Inverno gosto de me sentar à lareira, não só pelo calor que dela emana, mas porque, sempre que me sento lá, a minha avó começa a contar coisas do antigamente! Às vezes, e ao longo dos anos, vai contando as mesmas histórias, mas ouço-as como se nunca as tivesse ouvido! E também gosto do Inverno, porque na minha cozinha não há televisão. Como está frio, a televisão muda de casa e passa da minha para a da minha avó, que é logo em frente, sendo a entrada para ambas a mesma!Não, não é porque a televisão tenha frio, mas depois de jantar, vamos para a lareira e assim, o aparelho fica lá o Inverno todo e praticamente só se liga à noite! :) Embora na nossa mesa exista sempre espaço para o diálogo, no Inverno é muito melhor!(Eu sei que não é muito normal, mas tenho uma pequena aversão a essa caixinha que fala..) Ontem, em conversa, comentou-se que, em tempos passados se mandavam rezar "Pai-Nossos" junto das campas dos defuntos. Mas não era só pelos que lá estavam sepultados, era por quem as pessoas tivessem intencionado!Ou seja, em várias campas podia repetir-se o mesmo defunto. Então, lá andava o Sr. Padre, acompanhado de quem tinha ido assistir à missa das almas, de campa em campa a rezar e muitas vezes saíam de lá já noite escura. No entanto, o que mais me chamou a atenção nesta tradição foi o facto de cada Pai-Nosso custar 1 escudo...Na altura e com vários "Pai-Nossos" em cada campa, imagino o que aquilo não renderia. Afinal, ali, não se orava verdadeiramente, acho eu!Em primeiro lugar, porque, de tantas vezes repetirem o mesmo, as pessoas já nem dariam conta do que estavam a dizer e, em segundo lugar, comercializava-se a oração. Por cada Pai-Nosso vendido, 1 escudo... Falar de mandar rezar uma missa e pagar, é uma coisa, mas vender oração...
Embora também seja muito necessário, rezar não é só trautear orações já previamente concebidas e formuladas...rezar é orar, e orar é muito mais do que falar monocordicamente...é tornarmo-nos íntimos de Deus...com o coração!
sexta-feira, janeiro 11, 2008
Deixai moer...
O silêncio incomoda, ao mesmo tempo que é imprescindível. Oriundo de muitas causas e razões, acomete-se subitamente em nós sem pedir licença. Por vezes, nem lhe sabemos atribuir fundamento ou significado, para além daquele que está intrinsecamente ancorado à condição específica de cada ser humano. No entanto, faz-nos bem...Faz-me bem, é-me bem.
O meu silêncio não me agasta, mas pode desgostar os outros, assim como o silêncio de algumas pessoas e em certas circunstâncias me importuna. Porém, o silêncio deve ser incontornavelmente respeitado, na medida em que o possamos compreender e aceitar melhor. Dentro de cada um, a combustão do silêncio é simbólica: deixar moer sentimentos e pensamentos para que da farinha das conclusões se produza pão que sacie não só os nossos anseios e preocupações, mas também dos outros. Deixai moer... Estamos, assim, representativamente, a silenciar com o que descansa as palavras e a ajudar a ser melhor para com todos.
Prefiro o silêncio à verbosidade oca e irreflectida...prefiro uma mão estendida repleta de palavras no silêncio das suas acções!
quinta-feira, janeiro 10, 2008
Não é justo...
"- A vida corre bem?
- Corre bem, sim senhor.
- E o que é que faz?
- Nada!
- É reformada, então.
- Não, vivo com o rendimento mínimo."
- Corre bem, sim senhor.
- E o que é que faz?
- Nada!
- É reformada, então.
- Não, vivo com o rendimento mínimo."
Parece uma anedota, mas não é! O texto assim escrito não tem tanto impacto como se tivesse sido ouvido num tom jocoso e com um linguajar fácil e desprendido, supondo que viver com o rendimento mínimo seja o direito mais natural do mundo. Aliás, pela própria afirmação "vivo com o rendimento mínimo", dá a ideia de que a pessoa se amantizou com o mesmo.
A implementação deste subsídio para ajudar quem, na verdade, mais carece, é um projecto louvável e bem concebido. O que não me parece tão digno é o facto de ser uma medida que se tem vindo, não raras vezes, a aplicar desajustada e injustamente.
Quem olha, quem corrige, quem controla o desfazamento entre o necessitar genuinamente e o viver desregradamente?...
Não é justo...
quarta-feira, janeiro 09, 2008
Serenidade
"Era uma vez um homem conhecido pela sua serenidade. Nunca se irritava com ninguém. Para o experimentar, os colegas combinaram levá-lo à irritação e à discussão. Para isso, prepararam um almoço, para o qual também o convidaram. Logo de início, foi servida a sopa. A empregada do restaurante, cumprindo as ordens recebidas, passou à esquerda dele, que imediatamente estendeu o seu prato para ser servido. Ms ela ignorou-o e continuou a servir os outros.
Ele esperou calmamente e em silêncio, aguardando que ela voltasse com a sopa. Desta vez, porém, ela aproximou-se pela direita. Estendeu de novo o prato, mas de novo foi ignorado.
Naquele momento todos o observavam discretamente para ver a sua reacção. Educadamente, chamou a servente que, fingindo estar impaciente, perguntou:
- O senhor que deseja?
Ao que ele respondeu, com toda a naturalidade:
- A menina não me serviu a sopa.
Ela, para o provocar, respondeu:
- Servi, sim senhor.
Ele olhou para ela, olhou para o prato vazio e ficou pensativo alguns segundos. Depois, tranquilamente, disse:
- Serviu, sim, mas eu quero um pouco mais.
Todos constataram que era realmente um homem muito calmo."
Ainda que não seja fácil, a serenidade deixa-nos muito mais tempo para apreciarmos verdadeiramente o dom da vida.
Beijinho sereno
Não foi mais do que um miúdo de 10 anos...
Feitas de meninice e humildade, aquelas lágrimas brotaram-lhe apressadas e aliviadas. De tão sufocadas que estavam, não conseguiram permanecer lá dentro por muito e mais demorado tempo e renderem-se ao pranto da emoção. Anunciaram-se numa contracção de músculos faciais que só as crianças conseguem fazer em momentos que o coração mais parece querer saltar cá para fora.
A certeza de que aquele ser humano adulto sabia mais do que um miúdo de 10 anos, mas que, realmente, não deixou de ser uma criança de 10 anos, ficou bem expressa naqueles olhos humedecidos e nos lábios trementes. Comoção invejável para quem já deixou apagar dentro de si mesmo a criança que foi outrora. Lágrimas profundamente sentidas e puras, lavando o mérito de 50.000 euros ganhos, impregnados de sabedoria, simplicidade e dedicação, e enxugando a necessidade num abraço apertado e prolongado.
Mais do que prova dos seus conhecimentos, provou a magnanimidade e a vantagem de se ser criança, ainda que fisicamente já crescida ...
terça-feira, janeiro 08, 2008
Minha Terra, Minha Raíz...
Perguntaram-me se eu gosto de viver na minha terra, porque nela pouco ou nada se passa e nem sabem como ocupamos o tempo! É verdade que não existem tantas distracções como em meios maiores e mais desenvolvidos, mas não faltam actividades, onde nos possamos empenhar. Além disso, não estamos agrilhoados a ela, aqui já chegaram os carros e podemos expandir-nos por outros recantos do mundo. De qualquer modo, como não poderia eu gostar da minha terra? Nasci aqui, cresci aqui...As minhas raízes não sabem viver senão aqui. O fruto pode ir a outros sítios, mas as raízes permanecerão neste solo! E tive sorte...algumas vezes dou comigo a pensar como seria eu se não tivesse iniciado a minha vida nesta terra pequena e acolhedora! A raíz dos meus primeiros passos, das minhas primeiras palavras, da minha educação, da minha fé, dos meus primeiros amigos (que ainda hoje conservo) ...Está tudo aqui...Tal como um filho não deve renegar os pais, também eu não posso renegar a minha terra! Talvez não tenha aqui o meu futuro, também sinto isso muitas vezes, mas é a minha terra...com coisas menos agradáveis, como em todos os sítios, mas com um sossego aprazível, com uma beleza incomparável e com um cheirinho a colo que não existe em nenhum outro lugar...
segunda-feira, janeiro 07, 2008
O castanheiro
"Era uma vez um castanheiro grande e robusto. Era uma magnífica árvore. Um dia, o Senhor aproximou-se dele e disse-lhe:
- Diz-me, castanheiro, que queres que eu faça da tua boa madeira?
A árvore respondeu:
- Uma porta. Ou talvez uma janela pela qual as pessoas possam contemplar o azul do céu.
O Senhor escutava atentamente. O castanheiro tomou de novo a palavra e disse:
- Talvez seja melhor fazeres uma mesa onde poderias congregar as pessoas em fraternidade. Ou então alguns bancos para as pessoas descansarem.
O Senhor disse para consigo: « És um castanheiro com bons sentimentos!» Depois disse:
- Fizeste boas propostas. Uma porta, uma janela, uma mesa, bancos. Tudo isto é necessário. Mas, apesar disso, sabes o que é que te aconselharia?
O robusto castanheiro respondeu:
- Não, meu Senhor.
O Senhor disse-lhe então:
- Meu caro castanheiro, vou fazer-te uma proposta que é difícil, mas bela. Deixa-me fazer de ti madeira para queimar. Deixa que te corte em pedaços para seres simplesmente madeira para arder. Assim darás aos homens o calor e a luz de que necessitam nestes dias frios e escuros de Inverno. Tu gostarias mais de ser uma porta, uma janela, uma mesa, bancos. Dava-te mais prazer. Mas os outros neste momento necessitam de calor e luz. Darás assim às pessoas neste Inverno muita alegria."
E nós? O que queremos ser?
A lonjura da Amizade
Parece que a amizade mora mesmo ao lado de palavras bonitas e eleitas sob um escrutínio delicado e recto! Desfaz-se em elogios e pomposidades, quando a escusa de falta de tempo não lhe deixa fazer muito mais. Por vezes, assume um papel célebre mediante quem a possa observar, ou uma postura célere, se não houver ninguém a quem ela se possa mostrar. É por isso que não raras vezes a amizade se junta ao egoísmo e ao falso altruísmo, o que origina uma grande trapalhada e um número ainda maior dos depois chamados equívocos.
A Amizade, a verdadeira, mora bem longe e vai muito para além de artifícios denunciadores de interesses puramente particulares. Se for bem construída e sincera, a Amizade é em todas as circunstâncias e em todo o lado e o lado todo dela se reveste de lealdade...
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