sexta-feira, janeiro 25, 2008

Aquela porta...

Tem dois olhos grandes, anormais, em forma de rectângulos dispostos na vertical; um nariz disfuncional que não recebe cheiros, apenas tactos; e uma boca opaca, muda, com uma abertura própria para só deixar passar palavras escritas. Não sai do sítio e consegue ultrapassar-me, aquela porta! Consciente das limitações que me couberam em sorte, aquela porta limita-me para lá do que eu seja incapaz de realizar. Parece que divide o mundo ao meio e metade desse mundo eu não consigo ( ainda? ) percepcionar. Mostra-me a esperança e mostra-me o desalento, dependendo se a minha acção é sair ou entrar. Na lógica, devia entrar na esperança e sair do desalento, porém, absurdamente, entro no desalento e saio com esperança. É indefinível para mim e imperceptível para quem não lhe atravessa a soleira constantemente, por isso, já não digo a ninguém que aquela porta é mais do que isso mesmo, já não deixo que ela oiça os meus limites para me poder ultrapassar. Continua a dividir-me o mundo, mas enquanto isso, eu vou estando no silêncio da resignação para um dia deixar de ter dificuldades em compreender do que é que ela é realmente feita, e não é de alumínio!...

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